Escola do Jardim Iguatemi, que sirva de exemplo

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1988

A Escola Estadual Jardim Iguatemi localizada no distrito Iguatemi, em São Mateus tem se diferenciado da média das escolas públicas estaduais no sentido positivo, muito pelo empenho, criatividade de sua diretora Suzy Rocha Ribeiro Silva responsável pela unidade nos seus últimos quatorze anos.
Em rápida conversa com a reportagem a diretora explicou as razões dessa diferença e nesse sentido ela esclarece que o que trouxe como postura e prática para a escola tem muito a ver com a forma com que ela própria, filha de pais da roça que estudaram, fizeram cursos superiores e também se tornaram professores a ensinaram. Foi mais longe e explicou que sendo criada em família grande a prática do compartilhamento, da união e de acordos eram vivências naturais. Desde jovem percebia que a educação traz mudança e dessa forma desde os últimos 35 anos em que resolveu trabalhar com educação carregou isso consigo.
Suzy tem uma longa trajetória em vários cargos dentro da estrutura escolar, desde quando como professora, passando por coordenação pedagógica e posteriormente nas tarefas de gestão. Chegou a condição de diretora de escola por méritos próprios comprovados em concurso público.
Três linhas de comportamento orientam a sua vida profissional e eventualmente e por extensão até a privada. Suzy acha que planejar as ações em curto, médio e longo prazo é fundamental para uma caminhada certeira. O segundo ponto são o estabelecimento e respeito a regras e disciplinas acordadas entre todos os atores e clientela da escola com respeito aos horários, clareza de propósito e o terceiro ponto é a aposta no trabalho coletivo onde todos possam fazer parte de um grupo senão coeso, mas afinado nos propósitos. Foi com essa ‘filosofia’ que desde o início se comportou no Jardim Iguatemi.
Entender o tempo de hoje, mas preservar as boas práticas
Suzy comenta sobre as notórias diferenças que os tempos atuais conectado, ligeiro, expresso tem com um passado não tão distante. Apesar de compreender e aceitar toda a dinâmica atual que envolve principalmente os adolescentes e as redes sociais onde outras linguagens, outros modos e comportamentos são a tônica, ela, enquanto educadora, sabe que é necessário preservar valores como a leitura, a boa escrita, os bons modos. Algo como preservar e difundir junto a esse público mais fugaz a cultura mais geral, mais ampla, mais complexa e, portanto mais completa. “O adolescente pode achar bom ler alguma coisa de forma digital, mas precisa também retomar e se habituar a ler bons livros”, cita como exemplo.
Reconhece, entretanto, a dificuldade e a lentidão de como a escola enquanto instituição se adapta aos novos tempos. A ideia é tentar tirar proveito das inovações tecnológicas, sem abrir mão de valores, em resumo.
Projetos inovadores na região
Um dos destaques da escola é como ela se relaciona com os alunos e por extensão com a própria comunidade. É perceptível que por lá algumas coisas acontecem que qualificam-na, o seu corpo diretivo e pedagógico e principalmente a atual direção, pois foi da ideia inicial da diretora Suzy trazer ações que movimentasse e ajudasse os envolvidos a serem protagonistas dessas ações. Suzy explica que optou por eventos e iniciativas de natureza cultural que se diferenciava da realidade objetiva dos alunos. “A realidade do aluno de escola pública da periferia pobre da cidade de São Paulo, com os seus desconfortos que todos eles conhecem bem, foi abortada. Achei que não era motivadora e parece que acertamos”, comenta.
A primeira ação foi trabalhar com a arte dos pintores importantes. “A arte sensibiliza através da percepção da estética, do belo que mexe e trás sentimentos. Muitos acharam que estávamos delirando, mas as crianças se envolveram. Ao contrário de pais e professores que tinham dúvidas, os alunos perceberam a oportunidade de sair daquele mundo real da periferia. Deu certo”. “Quando o padre da comunidade em sermão deu um depoimento parabenizando a escola chamando-a de museu a céu aberto que tirava o conhecimento de trás dos muros para fora, fiquei mais otimista”.
Depois desse primeiro encontro outros tantos se repetiram com o passar dos anos, sempre com o mesmo envolvimento e empenho. Como temas trataram dos cientistas, de países, dos filósofos, de atletas, em vésperas da copa do mundo desse próprio assunto e também da Amazônia. São realizados um por ano envolvendo todos os ciclos da escola.
O tema Amazônia envolveu todas as disciplinas e as socioambientais. “Percebemos que as crianças passaram a ter informações ambientalmente corretas e adotar cuidados possíveis no seu próprio universo. Coleta seletiva, gastos no banho, fizemos todas essas discussões. O tema do Enem foi Amazônia. E eles sabiam tudo tinham clareza e tiraram nova média de 7,5, deu uma sensação de acerto do nosso projeto. Estamos contribuindo”, comenta a diretora. “Conseguimos perceber que as crianças assimilavam as informações e iniciaram práticas cotidianas mais sustentáveis adotando os cuidados possíveis dentro de seus próprios universos”, completa.
Em 2010 o projeto focou os poetas e suas obras e o esforço acabou resultando na produção de um livro. Durante a realização mais de mil poemas foram recitados pelos alunos e demais envolvidos. Em outros anos temas como profissões, cinema, músicas e mais recentemente política desembocaram, agora, em temas de ação política. Suzy explica que as questões de segurança, saúde, transporte, educação e outros temas de importância para as comunidades serão enfocadas também do ponto de vista da ação política. Um feito, visto que a alienação e a recusas à política é uma situação, infelizmente, comum. A própria pintura do muro da escola perpassará essa temática.

Segundo e terceiro livros

Um segundo livro intitulado Pequenos Gestos, Grandes Transformações, em 2014, enfocou de forma coloquial uma série de exemplos de ações que resultam em melhorias. Já o terceiro livro que está sendo gestado será a resultante do relato das experiências dos professores na condição de gerir a escola por um dia. Com o título Professor, gestor por um dia, o livro reunirá o relato destes aos quais a diretora já teve algum acesso. Para Suzy, a experiência relatada pelos professores mostra a importância desse trabalho de gestão e suporte nem sempre percebido pelos próprios professores, funcionários e alunos.

Escola comemora 15 anos com baile debutante
Apos as comemorações de 10 anos da escola onde os alunos estiveram envolvidos parcialmente as comemorações dos 15 anos ocorrida ao final de 2014 contou com intensa participação. Com certas dúvidas e reservas, professores e funcionários aceitaram a proposta de um baile. Deu muito certo, diz Suzy. Todas as classes participaram e ainda destacaram um casal de cada sala de aula e de cada ciclo onde foi possível para participar de uma dança mais cerimoniosa. Ou seja, a adesão dos alunos e da comunidade foi um sucesso.
Com três livros finalizados, com ações comunitárias, com regras, respeito e pratica educativa a Escola Estadual Jardim Iguatemi se destaca dentro desse cenário. Parabéns aos esforços da diretora.
(JMN)

2 comments

  1. Suzy |Ribeiro 12 fevereiro, 2015 at 01:22 Responder

    Cara Lucy,
    Emocionei ao ler sua matéria, melhor, nossa, você e a Escola Estadual Jardim Iguatemi , novamente parceiras, afinadas.
    Obrigada pelas palavras. Um beijo no coração.Suzy

  2. Suzy |Ribeiro 12 fevereiro, 2015 at 01:22 Responder

    Cara Lucy,
    Emocionei ao ler sua matéria, melhor, nossa, você e a Escola Estadual Jardim Iguatemi , novamente parceiras, afinadas.
    Obrigada pelas palavras. Um beijo no coração.Suzy

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