Menção honrosa à juventude

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Há alguns dias, numa roda de amigos, moradores e frequentadores de São Mateus, sentados ao redor da Praça Roosevelt, no centro de São Paulo, discutíamos o cenário político-social do nosso bairro, da nossa cidade, estado e, fatalmente, do Brasil.
Tratamos, principalmente, do transporte, do acesso dificultado a instituições de ensino reconhecidas, a estabelecimentos seguros de recreação e lazer e aos meios de integração social, como a cultura, pela comunidade periférica.
Naquela roda, todos, sem exceção, conheciam na pele o esforço do morador do nosso bairro para acessar outras partes da cidade, onde se encontram infraestruturas das quais ainda não dispomos aqui. Se não pelo tempo que levamos até qualquer estação de trem ou metrô, pelo próprio tempo que se espera num ponto de ônibus que não oferece nenhuma condição para abrigar segura e confortavelmente o usuário.
Expandindo essa problemática, em meio a inúmeros questionamentos destinados a encontrar o porquê destas deficiências, uma amiga suscitou a pergunta que todos têm, mas que nem todos fazem, seja por medo da resposta, seja por medo de não haver uma: Mas como acabar com a corrupção?
Nesse sentido, se fez de grande valia trazer à reflexão alguns dos pontos versados no último dia 21 de março, na banca de debate formada por André Singer (Cientista Político), Berna Menezes (INTERSINDICAL – Central da Classe Trabalhadora), Frei Betto (Escritor), Guilherme Boulos (Coordenação Nacional do MTST) e Ivan Valente, (Deputado Federal pelo PSOL-SP).
O evento realizado na quadra do Sindicato dos Bancários, localizada no centro de São Paulo, uniu, numa tarde de sábado, mais de mil pessoas interessadas em ouvir respostas a perguntas tão pertinentes quanto a levantada acima por jovens em praças do Brasil e pessoas de todas as idades, em todos os lugares.
Frente a um momento de polarização política, talvez a única e inquestionável unidade que se possa alcançar é a luta contra a corrupção.
Sem prejuízo das críticas que uma análise mais acurada pode levantar, uma das bandeiras erguidas e defendidas no debate foi o fim do financiamento privado das campanhas eleitorais.
Não é muito difícil imaginar que grandes empresas cobrem de volta favores prestados em períodos eleitorais em forma de suporte financeiro. Sofrível mesmo é admitir que tais favores sejam atendidos por candidatos eleitos ou afetos àquela relação. Mas, doa a quem doer – e dói em todos nós –, eles atendem.
Como parte de uma reforma política que engloba outros pontos e que tem como núcleo a mobilização popular, o fim do financiamento privado aparece como instrumento apto a garantir uma disputa verdadeiramente democrática nas eleições e que vá resultar no atendimento dos interesses dos eleitores e não dos grandes donos de capital.
Esta mesma mobilização popular aparece com status de “saída para a crise política” no discurso do Deputado Federal Ivan Valente.
Nesse sentido, retomando a despretensiosa conversa da juventude preocupada com seu presente-futuro e o futuro das próximas gerações, é passada a hora de entender: é preciso politizar.
A luta pelos direitos sociais representa cada cidadão que sai dos bairros de periferia para encontrar em outros o emprego, a faculdade, a boa escola e até uma praça pública de recreação que não represente perigo ao seu desenvolvimento saudável.
A sociedade, composta majoritariamente por pessoas comuns, trabalhadoras de toda ordem, inclusive jovens, tem nas mãos o poder de movimentar a política a seu favor. A Lei da Ficha Limpa que passou por toda a internet e de iniciativa popular é prova disso.
Infelizmente, algumas verdades são duras e é preciso lidar com a existência de interesses que pretendem preservar o atual sistema de coisas, o que, por definição, inclui esta corrupção que atrasa a vida de brasileiras e brasileiros como nós.
Existem hoje movimentos políticos voltados a financiar campanhas eleitorais com recursos exclusivamente públicos. Tantos outros discutem temas que, por vezes, passam despercebidos, mas são causas de distúrbios sociais e políticos, como, por exemplo, a democratização das mídias de comunicação – esforço no qual está engajado pessoalmente este jornal.
Diante do cenário vivido por nossa sociedade, é preciso resgatar a consciência de que nós, cidadãos, não somos figurantes desta história. Ao contrário, somos protagonistas desta luta, sem os quais nada mais faz sentido.
É preciso incentivar esta juventude pensante, que não apenas vê seu bairro, mas o enxerga para além do que é e visualiza o que pode ser.
Exalto nesta oportunidade a juventude que pensa seu meio ambiente, que pensa a coletividade, que pensa uma economia criativa e de colaboração. Esta juventude que quer ascender por si e para o mundo, sem a necessidade ostensiva e vazia do ter por ter.
Os debates entre amigos ampliam nossa percepção sobre a vida. As discordâncias desenvolvem a habilidade de entender o outro. Da mesma maneira, as pequenas honestidades do dia a dia são formas de podar a corrupção em seu estágio mais prematuro, de modo a impedir que cresça desenfreada e tome justamente as proporções com as quais nos esforçamos para lidar agora.
Exorto a união da juventude e, neste ensejo, especialmente a de São Mateus, que pode colaborar com ideias, discussões e debates, inclusive através deste canal, pelo meu e-mail. É inexplicavelmente honroso compor a geração que não quer apenas fazer parte do mundo, mas, sobretudo, transformá-lo. E a ela eu dedico este artigo.
nanoAmanda da Mata.

Bacharel em direito pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo (Autarquia Municipal). Entusiasta das letras desde criancinha.
amandadamata.93@gmail.com

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