Protestar é da democracia, mas, sem foco correto, ineficazes

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O descontentamento com a situação do país é grande, mas tão difuso, que uma foto circulando pelas redes mostrando uma senhora que levou sua empregada uniformizada para bater a panela por ela, faz um contraponto empobrecedor da questão. Ainda não se sabe se o ocorrido foi no Brasil, mas se foi, é uma mostra de parte da elite dos países sul-americanos que se acham tão aristocratas que sequer pegam nas próprias panelas para bater.
Entendo que os equívocos se avolumam como uma pilha disforme, fadada a cair sobre a cabeça do empilhador, ou seja, da sociedade que protesta. Pode e deve mesmo protestar, mas, antes, identificar corretamente o quê e quem são os verdadeiros culpados. Não basta tirar a Dilma, tirar o PT, isso não resolverá a crise essencial e deixará impune outros culpados pelas várias coisas que contribuem com o mal estar geral. É claro que estamos de acordo com a punição dos malfeitores nas lambanças de corrupção que vem sendo investigadas e reveladas, mas há que ser justo.
Está passando despercebido, mas não aqui. O tal Pedro Barusco que não fez grande oposição ao repatriamento de R$ 139 milhões, frutos das propinas da Petrobras ao país, diz que esse dinheiro corresponde a 20 anos dessa ‘modalidade empreendedora’ na empresa. Oras! Isso indica que a lambança não foi invenção do atual governo, mesmo nos últimos 12 anos. Vem de outras gestões. Como fica então nesse ponto protestar apenas contra uma parte dos culpados? Claro que não vai dar tempo de parar para pensar.
Mas não esmoreçamos. Só falar mal de políticos é ingenuidade. Para malfeitos como os que vêm sendo revelados, cabe a expropriação de todos os bens dos malfeitores na exata proporção dos roubos que fizeram. Sejam eles bagrinhos ou tubarões, diretores indicados pelos partidos ou os empresários que se locupletam nessa farra desde os tempos da ditadura, ou seja, dos anos 60 para cá. Porque, portanto, culpar, apenas o PT e agora os personagens de seu quarto mandato? Não está certo e não se resolverá os problemas.
Essa é uma das confusões. A outra é a tentativa daqueles que condenam o panelaço, seja por afinidades ideológicas ou interesses, que se queimam no afobamento em dizer que não haviam ouvido as panelas e que aquilo era apenas reclamação da classe média alta, da elite, dos ricos e privilegiados. Não deveriam arriscar tanto para tentar diminuir o que aconteceu. É preciso entender, aceitar, debater e conviver com o fato de que há sim motivos para descontentamentos.
Principalmente porque há, também, uma mudança na correlação de forças, visível nas redes sociais e na internet que de uns tempos para os dias de hoje tem se tornado um palco de debates e posicionamentos que, à sua moda, ajudam na conscientização cidadã. Hoje já não é mais sem contestação a defesa de certo modo petista de governar e até mesmo das posições de certa esquerda. Vale esclarecer que não acho que o PT ainda seja um partido de esquerda.
Nessa mudança e com o descontentamento difuso crescente, se expressam na rede certas vontades de mudar esse governo. Alguns argumentos tem alguma validade, outros, mais simplórios, acenam com supostas ameaças de instalação de certo comunismo e de bolivarização do país, seja lá o que isso signifique. Ocorre que por trás dessas movimentações está à falta de olhos para ver que existe, também, e principalmente, uma crise mundial na economia e que o imperialismo, capitaneado pelos EUA opera no tabuleiro para enfraquecer os países da América do Sul, Brasil incluso, como já o fez com os países do Oriente Médio.
No Brasil, manifestações a favor e contra devem ocorrer num mesmo fim de semana. No dia 13, com aliados e simpatizantes do governo Dilma e outros que nem apoiam tanto, mas precisam explicitar que a saída é pelo nacionalismo e pela manutenção das conquistas, e no dia 15, para os que bateram panela recentemente e todos os outros setores ou pessoas contrariadas com a condução do país. Alguns querem o impeachment da Dilma, outros pedem intervenção militar.
Agora quem não tem muito do que reclamar é a elite. Os governos comandados pelo PT, desde a primeira eleição do Lula, se entendem e atendem aos interesses dessa elite; parte produtiva e parte especulativa. O que a elite não aceita é as políticas compensatórias, pois acham que perder um anel ou outro é muito. Essa elite é de gente que nunca, em hipótese alguma, querem perder. Um segundo desconforto dessa elite é que não engolem o fato de não ser de um dos seus a titularidade do governo federal. Tiveram que assimilar um metalúrgico e uma ex-revolucionária.
Mas fora da elite essa explicação não basta. Desconforta sim, a revelação de tanto roubo, tanta impunidade e certo abandono das propostas mais emblemáticas do PT das antigas. Aquele que prometia superar as desigualdades. Abandonados, o povo, propriamente dito, soma-se ao mau humor de outros tantos.
Protestos fazem parte da democracia, mas nesse contexto ineficazes, pois não expõe com clareza quem são mesmo os principais adversários e os obstáculos ao crescimento sustentável e elevação do povo brasileiro e sua nação.
(JMN)

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