Qual é o tamanho atual do buraco na camada de ozônio?

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Apesar da pouca atenção que tem recebido recentemente, o buraco na camada de ozônio ainda existe, embora a comunidade científica esteja otimista sobre a redução do seu tamanho.
Camada de ozônio sobre o Polo Sul no dia 12 de setembro: em roxo e azul estão as áreas que têm menos ozônio, enquanto em amarelo e vermelho, as que têm mais
O ozônio é um gás incolor que forma uma fina camada na atmosfera e absorve os componentes nocivos da luz solar, conhecidos como raios “ultravioleta B” ou “UV-B”, protegendo os seres humanos dos riscos de desenvolver câncer de pele ou catarata, entre outras doenças.
Mas nos últimos cem anos, a atividade do homem fez com que a camada de ozônio começasse a deteriorar.
É por isso que, em 1985, a descoberta de um buraco em cima no Polo Sul acendeu um alerta global. E o buraco na camada de ozônio passou a ser o maior ícone da luta pela preservação ambiental da época.
Dois anos depois, foi firmado o Protocolo de Montreal, em que os países signatários se comprometeram a reduzir a produção e comercialização de substâncias consideradas responsáveis pelo dano.
Com isso, a camada de ozônio começou a se recuperar. E, nas décadas seguintes, o tema perdeu protagonismo para outras questões ambientais, como o aquecimento global. O que não quer dizer que sua importância tenha diminuído.
Afinal, qual o estado atual da camada de ozônio?
Paciente em recuperação
O Protocolo de Montreal proibiu o uso de certas substâncias para proteger a camada de ozônio, vital para conter a radiação ultravioleta
Foto: Getty Images / BBC News Brasil
De acordo com a última avaliação da Nasa, agência espacial americana, realizada em setembro de 2018, o tamanho do buraco na camada de ozônio é de 23 milhões de km², quase a mesma superfície da América do Norte (24,7 milhões de km²).
Mas, apesar dessa lacuna, a quantidade de moléculas de ozônio na atmosfera ao redor do planeta é “bastante constante, com uma redução de cerca de 2% nos últimos anos”, diz Stephen Motzka, pesquisador químico da Administração Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA, na sigla em inglês).
“Embora não haja nenhum indício de uma recuperação completa da camada de ozônio, há certamente uma melhoria na diminuição da concentração dos gases que causam a destruição do ozônio”, diz Motzka à BBC.
Em 2017, a Nasa informou que o buraco atingiu o menor tamanho registrado desde 1988. Mas a melhora “excepcional”, segundo os cientistas, estaria relacionada a condições climáticas, e não às ações de conservação.
Os especialistas esperam que o buraco seja reduzido para os níveis de 1980 até o ano de 2070.
Por que o buraco está sobre a Antártida?
Em 1986, a pesquisadora americana Susan Solomon mostrou que o ozônio estava sendo destruído pela presença de moléculas que contêm cloro e bromo provenientes dos clorofluorcarbonetos (CFCs).
Esses gases eram encontrados em quase tudo – de sprays para cabelo e desodorantes a geladeiras e aparelhos de ar-condicionado – e foram proibidos em 2006.
Quando tentamos localizar no planeta onde está o dano à camada de ozônio, olhamos para a Antártida.
“Quando falamos sobre o buraco na camada de ozônio, nos referimos à Antártida porque é onde a redução do ozônio é mais flagrante e maior durante uma época específica do ano, quando é a primavera (setembro-novembro)”, explica Motzka.
O frio extremo da região e a grande quantidade de luz ajudam a produzir as chamadas nuvens estratosféricas polares.
Nestas nuvens frias, é produzida a reação química de cloro e bromo que destrói o ozônio.
Quais são os países mais afetados pelo buraco?
As moléculas de clorofluorcarboneto sobem para a atmosfera, onde se dissolvem e atacam a camada de ozônio
Com a destruição da camada de ozônio, os perigosos raios ultravioletas do Sol encontram o caminho livre para atingir a superfície da Terra.
É por isso que alguns países da América Latina são mais afetados que outros pelo aumento dos níveis de radiação.
“Países com altas latitudes no hemisfério sul podem ter uma exposição maior e ser mais afetados pelos danos da camada de ozônio sobre a Antártida”, diz Motzka.
Aqueles que estão mais próximos do buraco, como Argentina e Chile, são os mais vulneráveis, segundo o especialista.
Substâncias perigosas
Em maio deste ano, um estudo conduzido por Motzka mostrou que, em algum lugar da Ásia, estão sendo geradas emissões de produtos químicos proibidos nocivos à camada de ozônio.
As substâncias a que ele se refere são os mesmos clorofluorocarbonetos (CFC-11), uma combinação de flúor, carbono e cloro.
Poucos meses depois, a Agência de Pesquisa Ambiental (EIA), com sede no Reino Unido, afirmou que esses gases poderiam ser provenientes de espumas de isolamento térmico de poliuretano, produzidas na China para uso doméstico a um preço reduzido. Mas o caso ainda está sendo investigado.
Agora, ficará nas mãos dos países signatários do Protocolo de Montreal tomar medidas para contornar o problema na próxima reunião, que será em novembro deste ano no Equador.
“Para que a camada de ozônio se recupere, precisamos que os controles do Protocolo de Montreal sejam cumpridos”, disse Motzka à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC.
Mas o especialista não perde a esperança.
“Ainda sou otimista sobre a recuperação da camada de ozônio no futuro”, diz ele.
Analía Llorente – BBC News Mundo

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