Que a verdade apareça na briga entre Janot e Collor

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Candidato à recondução como procurador-geral da República, o que acabou ocorrendo ao final do dia aprovado em plenário do Senado, Rodrigo Janot e o senador Fernando Collor (PTB-AL) se estranharam durante a sabatina realizada antes por cerca de dez horas na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, no dia 26. Denunciado ao Supremo Tribunal Federal (STF) na Operação Lava Jato pelo procurador, o senador conseguiu irritar Janot com as acusações que envolveu até questionar um irmão já falecido do procuradorgeral.
O procurador geral chegou a pedir que fosse assegurado seu direito à manifestação, de dedo em riste, enquanto era instigado pelo senador petebista. Até o presidente da CCJ pediu que o Collor silenciasse para ouvir os esclarecimentos do procurador. Uma clara demonstração de que quando o bicho pega no parlamento com coisas sérias como é a acusação do procurador-geral que poderá ou não ser aceita pelo STF para investigar Collor, e este procurando escapar dessas investigações os ‘vossas excelência para cá e para lá’ tem ares de ‘vou dar bordoada’. Collor, para os mais novos ou para os que se esqueceram, foi um presidente da República, afastado em um processo de impeachment, em 1992. Como único senador denunciado atualmente pela PGR, disse que Janot é um “vazador contumaz” e que “falseia informações”. Tudo isso a partir da primeira fila, em frente ao sabatinado com uma pasta nas mãos. Como conseguiu estar lá é uma incógnita visto que não é titular nem suplente daquele colegiado.
Muito naquelas de atacar para se defender, Collor acusou Janot de omitir de sua vida pregressa e do currículo que advogou quando era subprocurador da República e de contratar, sem licitação, uma empresa de comunicação pela PGR. Acusou-o, também, de ter alugado indevidamente para a instituição uma casa de 1.226 metros em área nobre de Brasília e de abrigar em sua casa, em Angra dos Reis (RJ), em 1995, um parente seu tido como contraventor procurado pela Interpol.
Foi à gota para o procurador demonstrar que também estava na briga: “Quanto à questão levantada de uma pessoa que seria um contraventor, essa pessoa a que o senador se refere é meu irmão. Enquanto membro do MPF, tenho impedimento legal de atuar em casos de parentes”, afirmou, mas explicou que seu irmão falecido há cinco anos foi acusado de ter cometido um crime na Bélgica.
Defendeu-se, também, da acusação de vazador dizendo não ter uma atuação midiática. Segundo ele o que se percebeu recentemente foram especulações da imprensa sobre a suposta lista que ele teria para denunciar ao STF. Tanto assim que entre as especulações e a lista real houve acertos e erros. Também disse não ter feito nada ilegal quando advogou. Ele ressaltou que a Constituição de 1988 permite que promotores e procuradores que já atuavam no Ministério Público àquela época exerçam ainda hoje a advocacia.
E foi indo, irritado, mas dando conta de explicar a contratação da empresa, aprovada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e do aluguel da sede para a entidade da qual é procurador-geral em área nobre de Brasília. Da locação recuou uma vez que o contrato foi cancelado por conta do zoneamento não permitir a atividade a ser instalada.
Acusações de ambos os lados, só evidencia, caro leitor, aquela situação que já sabemos ou desconfiamos existir quando falamos de políticos e dos poderes constituídos; qual seja a dificuldade em achar alguém num ramo ou no outro completamente honesto. E é com esses eleitos e ocupantes dos cargos que nos temos que nos arranjar e ao final da horrorosa novela ainda lembrar que pagamos os seus salários e mordomias.
Enquanto estavam, cada qual no seu quadrado; com o senador Collor fazendo a ‘política’ e o procurador-geral pegando leve nas investigações, ambos poderiam ser uma amostra exemplar de uma elite desaforada, perversa e aproveitadora das situações por causa do baixo grau de consciência política e cidadania na e da sociedade brasileira. Bastou um dos lados cumprir suas funções corretamente a dupla se travestiu de galos de briga em rinha pública. Se Janot, eventualmente não é santo, Collor também não. Contra o senador pesa a acusação de ter recebido R$ 26 milhões de corrupção em contratos na BR Distribuidora, uma das subsidiárias da Petrobrás. Além dele, na mesma denúncia entraram um exministro do ex-presidente, Pedro Paulo Leoni Ramos e outros três funcionários diretos do senador. Todos estão sendo denunciados, mas cabe apenas ao Supremo Tribunal Federal decidir se aceita a denúncia. Se for aceita, os acusados passarão a responder na condição de réus a uma ação penal. Mas nem tudo é ruim e chega a ser gratificante para nós, os pagantes da conta toda o fato de que não vai ser fácil essa briga entre Janot e Collor acabar em pizza. Se o senador Collor já xingou Janot de ‘filho da puta’, Janot chamou-o de ‘sujeitinho à toa’ e ‘fascista’. Vai ficar meio gozado eles acabarem celebrando um conchavo para um eventual pano quente, embora saibamos que em abraço de quem está se afogando não costumam se salvar nenhum dos dois

(JMN)

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