Temer, o interino e o óbvio

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No primeiro pronunciamento oficial como presidente interino do País, o peemedebista Michel Temer reconheceu o momento político e econômico delicado que o país atravessa para em seguida argumentar não ser mais hora de se falar em crise, mas trabalhar.
Como assim, caro presidente? Sobre o que mais se falou desde que saiu o resultado eleitoral em 2014 com a eleição de Dilma Rousseff como presidente e atualmente afastada foi sobre crise.
Agora, o senhor assume, e o assunto não pode mais ser dito ou lembrado? Não, não é assim! Não existe passe de mágica de mudar uma situação tão e somente por conta de um congresso, senado e câmara altamente questionados em suas qualidades, terem decidido o afastamento da presidenta eleita.
Para o interino, o maior desafio dessa transição temporária até a eventual volta da Dilma ou até as próximas eleições majoritárias é recuperar a credibilidade da economia brasileira e parar o processo de queda dos investimentos.
A tarefa a que vai se dedicar o interino é criar um ambiente para isso. Entre outras novidades, que de novo nada tem, está à proposta de aumentar até no limite do possível as parcerias público-privadas, qual seja passar em forma de concessão, venda direta ou outra forma que possamos especular os serviços públicos que eram ou deveriam ser providos pelo Estado.
Para bem ilustrar, estradas, por exemplo. Para Temer, compete ao Estado cuidar de áreas como segurança, saúde e educação, mas ele afirmou que o “restante” será compartilhado com a iniciativa privada.
Na lógica do interino essa atitude pode construir um potencial para gerar empregos. Parece se esquecer do óbvio que é de que sendo servido o mesmo tipo e quantidade de serviço, em tese, deve ser executado por idêntico número de trabalhadores, portanto, não serão tão instantâneos assim esses supostos novos empregos.
Ai esse escriba começa a temer o Temer e dar crédito as desconfianças que já nutria. Será que ele estaria falando ai em entregar também nossos recursos naturais, os produtos de nossa matriz energética fóssil, o petróleo, por exemplo? É nessa intenção, também compartilhada com o José Serra, que virou ministro das relações exteriores, e deverá entregar ou doar o pré-sal ao capital internacional, conforme esse próprio escriba sugeriu mais de uma vez? Se assim for, e acho que é o povo brasileiro verá que os novos tempos não serão de sossego e sucesso e sim muito sinistro.
Mas para que não me acusem de ser intransigente posso claro, dar um pequeno crédito. Se ele estiver falado sobre uma ação mais intensa desses serviços, a lógica implicará em reconhecer que se o serviço é prestado em maior quantidade ou qualidade, provavelmente demandará mais trabalho, portanto trabalhadores.
O curioso é ele repetir a mesma conversa da Dilma; a necessidade de equilibrar as contas públicas. Diz ele que vai focar na melhoria dos processos administrativos e eficiência, mas a Dilma não fazia o mesmo discurso e esboçava alguma prática? Também diz que precisará de governabilidade, exatamente igual à Dilma, para a qual foi negado esse apoio. “Vamos precisar (…) do apoio do povo. O povo precisa colaborar e aplaudiu as medidas que venhamos a tomar”, disse. A Dilma não dizia a mesma coisa? Dúvidas colocadas, o Temer diz que pretende enxugar a máquina estatal e que comissionados perderão os cargos. Imagino que outros serão criados e ocupados por gente mais próxima.
Essa fala somada a união entre os poderes e o povo e a busca de harmonia e diálogo com o Legislativo parece indicar que para além desses entendimentos esteja à proposta de construir uma ponte e uma dependência entre eles de forma a facilitar a sua transição.
O governo Temer inicia parecendo navegar em mar calmo e sem nenhuma oposição significativa. Tem o aval da grande mídia que infernizou a vida da presidenta afastada. Como de praxe terá um período de trégua como o que é entregue em todo e qualquer governo até que os interesses de uns e outros sejam atingidos.
Não querendo criar marolas disse que manterá os principais projetos e programas sociais como a Bolsa Família, apesar de, logo em seguida, um de seus ministros ter sido lembrado como um dos que queria cortar no ano passado 10 bilhões desse programa.
Esperto e experimentado, o presidente interino já acenou também a revisão do Pacto Federativo indicando que estados e municípios precisam ganhar autonomia verdadeira para tornar a federação funcional. É evidente que quer passar o mel na boca e refrear qualquer ânimo reivindicativo de governadores e prefeitos.
Mas para dar um pouco de fôlego ao atual mandatário peemedebista vamos também guardar chumbo para os próximos passos caso ele seja merecedor. Para finalizar a lista de nomes com os ministros indicados com pelo menos sete envolvidos na Lava Jato mostra que o chumbo deverá estar quase sempre presente. (JMN)

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