A história do bairro – A política no dia-a-dia dos moradores

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Bento Caetano, de 83 anos já falecido era um personagem vivo na história do bairro. Sua própria história se confunde com a de São Mateus. Foi através do seu trabalho político que muitas coisas chegaram ao longínquo bairro. Sua vivacidade e astúcia o transformaram em um homem público, querido e também odiado em razão de suas convicções político-partidária. Hoje, aposentado, ele recorda das lutas e, muito claramente, vê-se nele um profundo apaixonado por São Mateus.

Ele pode ser considerado a raiz do movimento popular no bairro. Mesmo sem pretensão, se transformou em um político. Daqueles que utiliza a política como um trampolim para obter dos órgãos públicos aquilo que é necessário para a comunidade. Trabalhou duro e sem nenhuma remuneração. Não chegou a acumular fortunas, apenas as que conquistou para sua comunidade, como escolas, o asfalto e a água.

É orgulhoso do pouco que deu de si para o povo daqui.

“Era um dia bonito demais que 1951”, diz ele a respeito das sias recomendações no dia em aqui esteve pela primeira vez para adquirir um lote de terreno. Como todos os demais pioneiros, ele construiu uma pequena casinha, onde viria morar um ano depois com a esposa, moça nascida em cidade do interior.

“Aqui era tudo capoeirinha”, diz ele. Afirma que se sua esposa fosse da Capital, jamais se habituaria ao lugar. Poucas casas haviam. E à noitinha, os únicos sons vinham dos passarinhos, que faziam um ruído curioso e até assustador.
A chegada de sua família coincidiu com o dia do Trabalhador 1º de maio. Ele acabara de se casar pela segunda vez. Viúvo, sua noiva também era e trazia para o novo casamento suas duas filhas pequenas.

Muito empolgado com a chegada, ele não observara se o lugar tinha escola para as crianças. Coisas que somente depois de se fixar no bairro, o preocuparia. Foi daí que teve inicio suas andanças por melhores condições de vida no lugar.

“Aqui tudo era difícil. Não havia transporte, nem rua asfaltada, água, luz ou escola. As crianças tinham de ir estudar na Vila Antonieta e, quando chovia, tinha de ir a pé. Foi um sofrimento muito grande, mas como eu e minha esposa gostamos do lugar, decidimos ficar”
A primeira reivindicação

Depois de constatar que no local não havia escola, tomou a decisão de procurar o administrativo loteamento, Osvaldo Neves. Três meses depois, a loteadora mandou para o bairro duas professoras. Era 1952 e um morador do bairro, chamado Joaquim Benedito (mais tarde viria a ser compadre de Caetano) o encontro durante uma greve de ônibus. Joaquim lhe diria naquele dia que Jânio Quadros seria candidato a prefeitura de São Paulo e que nunca havia estado em São Mateus.

Prevendo a possibilidade de eleição de Jânio, Caetano, Joaquim e José Morais foram à procura do candidato em sua residência. Lá, eles foram recebidos por Jânio, que prometeu ajudar o bairro, caso eleito.

Com a promessa, os moradores engajaram-se na campanha e alugaram um salão na avenida Mateo Bei, para que fosse implantado lá um comitê político. Esse foi o primeiro diretório político de São Mateus.

Como Jósé Morais era contador, todos o julgavam o melhor para falar em assim se comunicar com o povo. Por isso, ele foi escolhido para presidir o diretório; Caetano ficou como secretário; Joaquim como tesoureiro, e dona Filomena (moradora do lugar), a presidente do Comitê Feminino.

Rivalidades Políticas

Chegou o dia da inauguração do diretório e quem se sobressaiu como orador foi Caetano. Naquele momento iniciava ali sua vida política.

Toda a campanha de Jânio no bairro foi realizada debaixo de muita rivalidade.

Ademar de Barros era seu inimigo político e seu chefe político no bairro, pertencia à polícia. “Era um camarada perigoso”, acusa Caetano. Segundo ele, quando este soube da implantação do diretório, levou carro de polícia até lá e ameaçou incendiar o prédio.

Apesar das ameaças, a campanha prosseguiu e Jânio conquistou a prefeitura “Após as eleições começamos a trabalhar. Jânio e eu fomos grandes amigos. Ele esteve em minha casa com dona Eloá, durante várias ocasiões”, lembra Caetano.

As reivindicações de São Mateus eram a construção de escolas e também a pavimentação da estrada. Eles queriam que fosse asfaltado o trecho entre a Vila Carrão e a Praça Felisberto Fernandes da Silva, perfazendo um total de 9 km de extensão.

Jânio não pavimentou a estrada. Alegou não ter recurso na época. Contudo, construiu dois galpões, um em São Mateus e outro no Jardim Santa Adélia, onde foram implantadas classes de aula.

Depois dessa campanha, Caetano passou a ser cabo eleitoral de Jânio. Trabalhou para sua campanha ao governar do Estado e também à presidência da República. Nildo Gregório só viria conhecer Jânio na campanha a governador, onde segundo Caetano, atuou na cidade de Itaquaquecetuba, onde trabalha na ocasião.

Já como secretário do PSP, Caetano ajudou a campanha de Carvalho Pinto a governador. “Ele não era como Jânio” observa. O acesso ao governador era mais restrito e era através de Plínio de Arruda Sampaio, chefe do plano de ação de Carvalho Pinto, que eles faziam as reivindicações.

Foi dessa forma que conseguiram as construção do primeiro grupo escolar do bairro, o Pedrosa.

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