Associação Nova Esperança do Jardim São Francisco tem sido o alento de milhares de famílias em situação de vulnerabilidade

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Na linha de frente de combate à fome durante a pandemia do coronavírus, associações de bairro têm sentido na pele a redução drástica de doações e parcerias

 

No Jardim São Francisco, bairro no extremo da Zona Leste, divisa entre São Mateus e Mauá, no ABC, a Associação Nova Esperança do Jardim São Francisco (ANESF), vem sendo braços e pernas de milhares de famílias em situação de vulnerabilidade social. O presidente Agnaldo Silva França, o Guigui, se preocupa com o avanço da pobreza na região, que no passado se formou a partir das ocupações irregulares.

No comando da associação há 20 anos, ele desabafa que tem sido uma das piores fases da comunidade. “De março de 2021 para cá, entregamos mais de 20 mil cestas básicas. Estávamos distribuindo 1,4 mil marmitas por dia, infelizmente, esse número foi cortado para 600 marmitex diários no mês passado”, lamenta.

Ele explica que com a redução dos casos e dos óbitos por covid-19 após o avanço da vacinação em São Paulo, o número de parceiros e de doações oriundas de programas sociais da Prefeitura também caiu. “Mas a fila de pessoas com fome, trabalhadores que perderam o emprego ou tiveram a renda diminuída, só aumenta”, cita.

Agnaldo veio do Nordeste aos 12 anos para o Jardim São Francisco no ano de 1989, e pode acompanhar de perto o crescimento do bairro. “Desde março de 2020 houve um retrocesso, parece que voltamos à idade da pedra, não há mais investimento em ser humano. É doloroso ver amigos de infância na fila de espera por doação de alimentos na associação, pessoas que tinham comércio, emprego, renda, hoje se encontram sem nada”, comenta.

APOIO – Na entidade, as famílias cadastradas têm acesso a cursos de alfabetização (MOVA), orientação jurídica e encaminhamentos para esportes, lazer e cultura. Nos próximos dias, também irá começar a oferecer preparação gratuita para o ENEM. Agnaldo estima que o bairro já tenha cerca de 50 mil moradores, entre as ocupações irregulares e programas habitacionais populares. Por causa dessa explosão demográfica, serviços como posto de saúde, escolas, creches e o AME (Ambulatório Médico Estadual) já não dão conta do recado.

“Desde antes da pandemia os investimentos em moradia popular também pararam. Agora que o prefeito Ricardo Nunes lançou o programa “Pode Entrar”, que era para o falecido Bruno Covas ter lançado antes, mas acabou segurando por causa da campanha eleitoral. O programa era de competência do Ministério das Cidades, do Governo Federal, mas agora é projeto próprio da administração municipal voltado à população de baixa renda”, diz Agnaldo.

Segundo Agnaldo, a região tinha 1,2 mil famílias no aluguel social, pessoas que haviam sido removidas de ocupações e áreas de risco e estavam a 10 anos esperando seus apartamentos, porém até agora saíram apenas 600 unidades; fora as famílias da ocupação do Rodoanel.

Para ele, só existe um caminho para diminuir o assistencialismo: qualificação profissional e educação. “Quando a pessoa puder ir atrás do seu próprio sustento, tiver dignidade e se sentir responsável por sua vida, sem vitimismo, é que a vida delas vai começar a melhorar. Enquanto isso vamos fazendo o possível para ajudá-los a resgatar um mínimo de dignidade e de autoestima”, finaliza.

FOME – No estado de São Paulo estima-se que entre seis e sete milhões pessoas passem fome (insegurança alimentar grave), e outros 14 a 15 milhões não tenham comida em quantidade suficiente (insegurança moderada). São 14,8 milhões de pessoas desempregadas, 5,4 milhões em situação de miséria, enquanto que a inflação nos últimos doze meses (IGP-M) bateu 37%. O item alimentação tem puxado o ranking da alta de preços, principalmente no bolso dos mais pobres.

 

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