Escolas municipais de SP retomam ensino presencial nesta segunda; professores e pais reclamam de falta de estrutura contra a Covid

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Retomada das aulas presenciais na rede municipal de São Paulo está marcada para esta segunda-feira (15), mas foi adiada em 530 escolas por falta de equipes de limpeza. Pais de alunos reclamam que escolas com a retomada mantida não têm condições de ventilação nem funcionários suficientes para cumprir o protocolo.

As escolas municipais da cidade de São Paulo retomam o ensino presencial nesta segunda-feira (15). A reabertura é marcada por críticas e denúncias de pais e professores contra a falta de estrutura de algumas unidades, que não têm condições de receber os alunos seguindo os protocolos de biossegurança contra a Covid-19.

Integrantes de conselhos escolares ouvidos pelo G1 reclamam que as unidades não têm condições de ventilação adequadas ou equipes de limpeza suficientes para cumprir as medidas definidas pela Prefeitura de São Paulo para a reabertura.

Como o G1 mostrou na sexta-feira, ao menos 530 escolas não vão abrir nesta segunda porque não têm funcionários de limpeza.

Pais de alunos também se dizem preocupados com a possibilidade de escolas receberem estudantes remanejados de unidades próximas,porque algumas não vão reabrir por não terem condições para a retomada das aulas presenciais.

Em nota, a prefeitura diz que “caso alguma escola apresente problemas para a volta às aulas, ela não será aberta no próximo dia 15 até que o caso seja solucionado”.

A administração municipal afirma ainda que “nenhuma escola terá mais de 35% dos estudantes” e que “será obrigatório o uso de máscaras por professores e estudantes”. A secretaria da Educação classifica a situação da escola que vai ter estudantes remanejados para outras unidades como um “caso pontual”.

A maioria das escolas municipais realizou reuniões de professores e também com o conselho escolar nesta última semana. O objetivo desses encontros era organizar a volta às aulas, mas as reuniões deixaram muitos professore e familiares de alunos preocupados.

Mãe de um aluno do Centro de Educação Infantil (CEI) Suzana Campos Tauil, creche municipal na Vila Mariana, Maia Gonçalves Fortes afirma que, durante a reunião, até mesmo funcionários da unidade reconheceram as dificuldades para garantir a segurança na volta às aulas.

“A direção da escola não tem autonomia pra tomar decisões, como fazer uma obra que poderia criar uma janela em uma sala onde é feita a troca de fralda de crianças menores, ou aumentar os funcionários de limpeza. A gente se organizou muito, eu participei de comissões, de lives, de reuniões com a diretoria regional de ensino, mas a gente não está tendo retorno”, diz Fortes.

Equipes de limpeza

O principal problema apontado por integrantes de diversos conselhos escolares ouvidos pelo G1 é a manutenção da limpeza das escolas. O protocolo apresentado para os pais de alunos determina que diversos objetos sejam higienizados várias vezes por dia.

Na sexta-feira (12) , 530 escolas e creches municipais em todas as regiões da cidade de São Paulo decidiram não vão retomar as atividades presenciais nesta segunda-feira (15) porque não têm funcionários de limpeza.

A prefeitura disse que a empresa responsável pelo serviço de limpeza dessas unidades abandonou o contrato e será punida. Outras 50 escolas estão com reformas em andamento e também não vão voltar a funcionar agora.

Na (CEI) Suzana Campos Tauil, onde a volta às aulas foi adiada, a equipe de funcionários de limpeza tem apenas dois profissionais para cuidar da creche com 120 crianças matriculadas.

“Logo antes da pandemia teve uma redução generalizada, então a equipe de limpeza já estava sobrecarregada. Agora, a gente chegou nesse momento com equipes cortadas pela metade, e não temos garantia de que a equipe vai voltar. A gente tem direito a quatro [funcionárias para a limpeza], mas só estão vindo duas”, explica Maia Gonçalves Fortes, do conselho escolar da unidade.

A mãe do pequeno Pedro, que frequenta a creche, também denuncia que os materiais disponibilizados para a faxina são insuficientes.

“As profissionais terceirizadas estão em condições de trabalho muito ruins, elas não tiveram treinamentos sobre o que é o novo protocolo, não receberam uniformes. A escola recebeu um único pano de chão da terceirizada, sendo que a empresa deveria dispor dos materiais. Um pano de chão pra uma escola com 120 alunos”, reclama Fortes.

Integrante do conselho da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) CEU Caminho do Mar, Ailton Amorim também denuncia a falta de condições de limpeza na unidade, que fica próxima à Rodovia dos Imigrantes, na Zona Sul da capital.

“Em 2019 retiraram da equipe de limpeza mais de 40 trabalhadores, e a escola fica em um local imenso, que tem EMEI, EMEF e CEI, tudo dentro do mesmo terreno. Ficaram de 16 a 20 funcionários da limpeza. Se você for dividir, são 10 [funcionários] de manhã e 10 de tarde, no máximo, pra cuidar de todos esses ambientes. Até o presente momento não houve sinalização de que esse número seria corrigido, pra termos mais funcionários durante a pandemia”, afirma Amorim.

O pai do João Gabriel, de 5 anos, acredita que a prefeitura não ofereceu condições para as escolas cumprirem as regras.

Na EMEF Professora Maria Antonieta D’Alkimin Basto, na Vila Olímpio, pais de alunos e professores também questionam as condições da volta às aulas. Em carta aberta, a comunidade escolar lista uma série de dificuldades para a reabertura, incluindo a necessidade de mais equipes de limpeza – a escola tem apenas três funcionários para essa função.

“A demanda sobre a equipe de limpeza será absurdamente maior, em um momento em que teremos, em determinados momentos, apenas um funcionário disponível por período, tendo que manter salas, corredores, pátio, banheiros, copa, salas do administrativo, quadras, em um padrão de limpeza maior e com ciclos de limpeza maiores e mais frequentes”, reclamam os pais, na carta.

Condições de ventilação

Famílias do Conselho do CEI Suzana Campos Tauil denunciam, além da falta de equipes de limpeza, problemas na circulação de ar em alguns ambientes da escola.

“Os banheiros não foram adaptados conforme protocolo da Prefeitura, ou seja, não têm ventilação adequada. As salas de aula deveriam ficar com as portas abertas para otimizar a circulação de ar, segundo o protocolo, mas não poderemos manter abertas as portas das salas 3, 4 e 5 enquanto não for providenciado um portão baixo para limitar a entrada e saída das crianças, porque há um risco de segurança física”, explicam no documento.

A reclamação sobre ventilação se repete entre pais de outras unidades. Na carta aberta, a comunidade escolar da EMEF Professora Maria Antonieta D’Alkimin Basto destaca que a unidade não teve adaptações.

“Devido a uma arquitetura específica de nossa unidade, com janelas pequenas, a ventilação das nossas salas de aula, pátio e salas administrativas é precária, não sendo possível adequações suficientes para diminuir o risco de contágio. Além disso, o prédio da unidade está em processo de tombamento por conta de sua arquitetura, o que impossibilita reformas que alterem sua aparência externa”, explica a carta.

Na EMEF Jean Mermoz, na Saúde, Zona Sul de SP, pais e mães de alunos voltaram atrás na decisão de enviar os filhos para a escola após reunião na quinta-feira (11), quando verificaram que as condições de ventilação da unidade não tinham melhorado.

Os pais reclamam que as janelas, do tipo vitrô, não são suficientes para arejar os ambientes, e dizem que, com as cortinas abertas, o sol vai esquentar os ambientes durante o turno da tarde.

Ocupação das escolas

Professores do CEU Alvarenga, nos arredores da represa Billings, na Zona Sul, se dizem preocupados também com a capacidade da escola em receber estudantes de outras unidades.

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